IRONIA, HUMOUR E LATÊNCIA NAS MÉMORIAS PÓSTUMAS Linhares Filho
Journal: Revista de Letras (Vol.12, No. 14)Publication Date: 1989-01-01
Authors : Linhares Filho;
Page : 83-128
Keywords : Memórias póstumas; Machado; Linguagem- Filosofia;
Abstract
Humorismo das Memórias Póstumas de Brás Cubas anuncia-se logo nas palavras preliminares sob o título de ''Ao leitor", escritas pelo "nutor defunto", entre as quais se lê sobre a ''Obra de finado": "Escre vi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil nntevcr o que poderá sair desse conúbio" .1 O que saiu foi D riso ;ontido e amargurado, cheio de travos, não com "algumas rabugens de pessimismo", a que se refere o pseudonarrador, como possíveis de :xistir no livro, mas com um real pessimismo, que chega às raias da negação vital; enfim o que saiu foi ''o sorriso franzido" na feliz desigr• nçüo de Graciliano Ramos . 2 Brás Cubas toma consciência do humorismo do seu livro, fato que mais se esclarece quando a personagem confessa estar atenta em um dos aspectos do humorístico: ''Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados" . (OC, p. 544) O humori smo das Memórias Póstumas, que se estende em maior ou menor intensidade ao geral da obra machadiana a partir de 1881, possui, pelas circunstâncias apresentadas, características ora de ironia ora de lwmour . O ar de mofa e altivez pessimistas com que Brás Cubas narra, di sserta e filosofa, muitas vezes querendo dizer o contrário do que ufirma, configura a ironia. O tom de galhofa perspicaz e velada, envolta em dor e tragédia, caracteriza o humour. As duas atitudes, ironia lwmour, muitas vezes se confundem em sua sutileza, tornando-se difícil a diferenciação entre uma e outra.
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Last modified: 2018-08-10 03:38:51