AMOR E MODERNIDADE EM HOTEL DU LOC

O após-guerra trouxe um inevitável questionamento de valores antes considerados como referenciais fixos. A súbita e total destruição de cidades, vidas e relações familiares representa um conjunto de circunstâncias que levaram o homem a refletir sobre o fato de que tudo pode deixar de existir subitamente, até mesmo o aspecto mais material de sua vida, seu espaço físico. Essa quebra da relação de continuidade, juntamente com a convicção de que não se pode acreditar ou confiar no amanhã, fez do homem um ser cínico e imediaista. É interessante portanto observar como o discurso do amor transformou-se nessa situação de modernidade. Para tal exame escolhemos o romance Hotel du Lac da escritora britânica Anita Brookner, vencedor do prêmio Booker Prize em 1984, ano em que foi escrito o romance. Notamos imediatamente o título. Escrito em francês, tende a sugerir para os leitores ingleses um clima de romance, naturalmente associado aos latinos. Mas logo no início se percebe que o Hotel du Lac se localiza na Suiça, terra da precisão e eficiência, e não um país associado ao amor e à sensualidade. E mais, refere-se ao período de transição entre outono e inverno, cheio de chuva e descrições cinzentas. São os primeiros indícios de que o romance não será exatamente o que se poderia esperar em termos românticos.