BABILÔNIA, BIZÂNCIO, BABEL E BRAZIL

Uma fronteira pouco frequentada. A obra de Uílcon Pereira, pseudônimo mais conhecido do autor de OUTRA INQUISICÃO, NONADAS e a IMPLOSÃO DO CONFESSIONÁRIO, é uma experiência instigadora. Trata- se de um romanção de 449 páginas, lançado separadamente em três títulos, compondo uma trilogia denominada NO CORAÇÃO DOS BOATOS. Obra incomum. Apesar do que já se escreveu a respeito, é um romance-rio experimental, peculiar e raro nas literaturas em Português. A primeira leitura é enganadora e desconcertante. A arquitetura do texto consiste basicamente de perguntas e respostas, um dos mecanismos essenciais da comunicação verbal -- um fluxo raras vezes interrompido por digressões dos inquisidores ou perguntadores. Um infindável inquérito levantamento. Sem solução alguma. Aparentemente, desconexão, non sense, parataxe. Uma Comédia nem divina nem humana? A Comédia das des-perguntas e das des-respostas? O que surge superficialmente na obra de Uílcon Pereira - a arquitetura baseada em perguntas descentradas dos inquisidores e des-respostas dos que são chamados a falar, a fronteira do estilhaçamento aí mostrada, a aparente negatividade, o interregno que não passa disso, um atoleiro de onde não se sai, um areal onde se marca passo - apenas são alguns elementos de uma estratégia literária, a da construção da obra. Vê-se, também, que o Autor foi costurando seu texto. após ter usado a tesoura. para re-talhar e depois re-montar, em uma determinada direção, uma parte do acervo literário universal.